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domingo, 28 de dezembro de 2014

Vós e porque vos odeio.

Os dois primeiros filhos da puta: o que cercou uma terra e disse que era dele e o que pediu algo em troca por algo que ele tinha sobrando.
Os dois primeiros idiotas: O que acreditou que uma cerca em volta de uma terra significava alguma coisa e o que deu algo em troca por algo que o outro tinha sobrando.

Eu ouço vocês dizerem que querem suas liberdades individuais, mas só entendo “quero meus privilégios”. Vocês pouco se fodem pra causa dos outros, pra liberdade dos outros, vocês só querem garantir o de vocês. E o de vocês nunca é o suficiente! O de vocês custa o dos outros, mas vocês nem ligam, e quando o dos outros custa o de vocês, fazem um escândalo como se fosse o fim do mundo.

Vou contar uma coisa pra você: pra cada iPhone roubado na Paulista, inúmeras crianças tiveram suas infâncias roubadas antes, seu potencial anulado e sua ignorância glorificada. Por que só deve doer quando é com vocês? Por que a sociedade só tem que sentir algo quando o roubo é com vocês?

Vocês são o resultado, e os pobres que morrem de fome, de enfermidades mal tratadas, de frio, de solidão, são o preço. O preço que eu pago pra não me tornar um deles, é alimentar vocês. E deixa eu te contar uma coisa, isso não é o preço da liberdade, não.

Eu não sou livre nem pra escolher uma profissão que me traga satisfação pessoal, pois preciso alimentar vocês. Não acreditam? Vejam a economista do PRONATEC, a maior cuspida na cara de vocês. Formada em economia e desempregada, uma pena. O mercado não a quer, ela que aprenda a fazer outra coisa! Sustentar a economia sempre foi o mais importante pra vocês. Por que não é agora? Parece que não precisamos de economistas, mas as empresas de cartão de crédito contratam atendentes de telemarketing, tá?

Em tempos de crise, vocês também não estão livres disso. Vocês não são grande coisa, vocês podem perder tudo ainda. Há um minúsculo número de pessoas, que não ultrapassa 3 dígitos, que não perderão tudo. E adivinhem? Vocês não fazem parte deles.

Idiotas e filhos da puta, vocês conseguem ser os dois.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Aos Gays, Divorciadas, Solteiras e Viúvas — sobre família

De todos os argumentos que escuto quando alguém me diz que é contra o casamento gay, tem um que me enoja mais do que todos os outros.

Geralmente a conversa já não é muito agradável quando chega a esse ponto, mas começa assim: "Mas um casal gay não pode ter filhos!" (e não é essa fala estúpida ainda). Eu nem responderia falando de adoção, porque geralmente a pessoa se mostra ainda pior ao entrar nesse assunto; eu diria apenas que as pessoas não são obrigadas a ter filhos, que as pessoas não querem viver juntas só pra por mais gente no mundo. Mas depois disso, certamente a coisa começaria a ficar séria:

"Mas isso não constitui família!"

Depois de desejar uma lobotomia por alguns segundos, eu abriria um belo sorriso querendo questionar a pessoa, mas não é necessário. Geralmente, ela mesma fortalece sua baboseira anterior com:

"Apenas um homem, uma mulher e seus filhos podem constituir uma família!"

É essa! É essa fala estúpida que me tira do sério.

Respiro fundo e volto no tempo. Quando eu tinha 10 anos, meus pais se separaram. Foi o melhor a ser feito, e foi o que eles fizeram. Era 2004 e eu e meu irmão passamos a morar apenas com minha mãe. Percebíamos que mesmo décadas depois da conquista do "desquite", algumas pessoas, principalmente mulheres, olhavam torto para minha mãe, como se ela fosse algum tipo de impureza.

Tenho uma forte lembrança de um acontecimento no ano seguinte. Eu, minha mãe e irmão fomos a igreja e lá começou um sermão sobre a importância do matrimônio e de manter a família acima de tudo. "... realmente se esforçar, porque você deve que se dar totalmente ao matrimônio..." Os olhares começaram a metralhar minha mãe; as palavras também. Ela se sentiu como o Frankenstein correndo das tochas. Pela primeira vez minha mãe fez o que eu pedia todas as vezes, foi embora antes da celebração chegar ao fim. Não porque eu pedi, mas porque sutilmente a expulsaram.

Eu não vejo na minha rua, ou no meu bairro, uma casa com mais risadas do que a minha. Não é querendo me gabar, mas minha mãe e meu irmão são as melhores pessoas com quem eu poderia estar agora. Eu amo meu pai, mas não acho que falte alguém nessa casa. Ela está muito bem assim, está completa.


Se minha mãe, eu e meu irmão não constituímos família pela falta de um modelo patriarcal, eu tenho uma coisa pra dizer a todos que se preocupam com o padrão de família: eu estou muito bem assim, longe do único padrão aceitável nos anos 20 e longe da sua família. Na minha casa eu não vejo um modelo de família, mas eu vejo gente que se ama. Pena que isso não conte para seus padrões.

Corrigida por Brina Gaspar