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sexta-feira, 20 de março de 2015

Deletaram a fala do preto!

    A Revolta é a justiça do oprimido. Vez ou outra se descontrola e é preciso que se seja inteligente. O pior ativista é o ativista burro. Em um mundo feito de aparências, precisamos garantir a nossa para sermos "validos". Isso é injusto? Sim, mas é preciso ter credibilidade quando se reivindica algo.

    Responder com agressividade a violência que se sofre, tem sido o modo de muitos fazerem sua justiça, o que seria efetivo se acontecesse sempre e de modo direto. Se desde sempre mulheres tivessem respondido a agressividade dos homens, provavelmente a sociedade machista de hoje não aconteceria. (Mas de modo direto! Seu marido te bateu? Bata em seu marido. Não vai responder a agressividade do marido no João da padaria!) Mas os débitos foram se acumulando, ninguém nunca pagou pela violência contra a mulher e agora o saldo é catastroficamente negativo. Por isso, com qualquer palavra de um homem, é comum a resposta: "xiu macho", Como se começassem a pagar as contas. E isso não vale apenas para o movimento feminista. 

    Ao apenas tentar silenciar quem sempre teve voz, o oprimido revoltado não se faz entendido (o oprimido revoltado, pois o que não se revolta todo mundo acha lindo e fica muito bem). Ao não se fazer entender, qualquer um (seja ele mal intencionado ou não) pode interpretar as palavras e ações do oprimido revoltado como bem quiser.

    Sei que pareço dura agora e que pareço desaprovar quando muitas agem de maneira agressiva. Entenda, se você se sentiu ofendida com a fala de alguém, tem todo o direito de se defender. Aliás, tem o dever de se defender! Mas faça isso direito, não seja um ativista burro. Não se deixe ser mal interpretado. Não perca o controle.

    No tão falado vídeo da intervenção do movimento negro na USP, nada se entende. O vídeo, filmado a partir de um aluno branco e de classe média, torna fácil a interpretação de que a intervenção é apenas uma invasão com agressividade e sem objetivo. Nas publicações que vi, quando aquela publicação chegou ao meu facebook, diziam para que assistíssemos pelo menos ATÉ o décimo minuto de vídeo, mas é A PARTIR  do décimo minuto que temos um discurso calmo, bem explicado e que faz com que até o representante da opressão ali presente se cale para ouvir.

    No que encontrei, com uma breve pesquisa no youtube, vejo vídeos que buscam ridicularizar a intervenção, vídeos editados com dez minutos de duração, quando o original tem dezesseis. Estes que são editados se reproduzem muito rápido e já percebi que não cansam de compartilhar como argumento de que "esses preto são uns folgado". Mas naquelas falas deletadas que se permite repensar todo o preconceito com o movimento. Que o expectador, mesmo ele branco, se sente incomodado com a questão racial. 

Quanto mais deletaremos as falas dos negros?

Um comentário:

  1. Tudo seria diferente se a lei de Hamurabi tivesse sido usada por mais tempo.

    em relação a negros, o foco são realmente negros (assim sendo, pardos e pretos.) ou apenas os pretos?

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